Essa é uma dúvida que muitos analistas se deparam quando vão realizar o cálculo do Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) também conhecido como WACC (Weighted Average Cost of Capital).
É certo também que existem muitos analistas que não se deparam com essa dúvida, pois simplesmente desconsideram os custos das dívidas de curto prazo para realizarem os cálculos, até porque a grande maioria das bibliografias não tratam deste tema de forma clara e objetiva.
Há alguns anos, eu me deparei com essa situação depois de ter realizado muitos e muitos Valuations. Eu tinha um caso em que a adoção de um ou outro critério refletiria de fato na avaliação e conclusão e, considerar ou não as dívidas de curto prazo, faria diferença.
E então o que eu fiz? Fui perguntar para diversos outros analistas que eu conhecia, amigos meus, especialistas também em Valuation na tentativa de ter uma argumentação adequada e um suporte para a minha análise (não esqueça, ela apresentava condições bem diferentes ao utilizar no cálculo as dívidas de curto prazo, então esse tópico era relevante).
Usar ou não as dívidas de curto prazo para cálculo do WACC?
Muitos opinavam que não deveria, outros que eu poderia, mas ninguém me fornecia um suporte adequado para justificar a adoção ou não de tal critério, ficando a discussão no “eu acho que sim” ou “eu acho que não”.
Não satisfeito, continuei a procurar algo que pudesse claramente me dar uma direção. Na época não achava nada, ou pelo menos, não achava nada que conseguia entender como sendo uma diretriz clara.
Resolvi escrever para o “Papa” do Valuation, Aswath Damodaran. Meus próprios amigos analistas me sugeriram isso, e ainda reforçaram: ele vai te responder!
Dois ou três dias depois eu tinha no meu e-mail uma resposta de Aswath Damodaran, mas eu ainda não estava satisfeito (eu iria entender mais tarde que a resposta dele, de fato, era o que estava procurando).
Agradeci a contribuição, mas continuei a pesquisar sobre o tema e, de forma despretensiosa, achei o seguinte trecho em uma bibliografia de nada mais, nada menos que Brealey & Myers, que reproduzo o trecho original a seguir:
“Many companies consider only long-term financing when calculating WACC. They leave out the cost of short-term debt. In principle this is incorrect. The lenders who hold short-term debt are investors who can claim their share of operating earnings. A company that ignores this claim will misstate the required return on capital investments.
But “zeroing out” short-term debt is not a serious error if the debt is only temporary, seasonal, or incidental financing or if it is offset by holdings of cash and marketable securities.”
Em linha gerais, o que o texto diz é mais ou menos o seguinte: se uma empresa se utiliza frequentemente dos financiamentos de curto prazo em sua operação, se depende deles, se não são esporádicos, os custos das dívidas de curto prazo devem sim serem considerados no cálculo do custo médio ponderado de capital.
Ao ler, sinceramente considerei óbvio tal critério, mas é incrível como muitas coisas se tornam óbvias quando estudamos e pesquisamos profundamente sobre elas, não acham?
Espero contribuir com você que está lendo este artigo, neste tema às vezes tão técnico, e muitas vezes tão importante para a realização de estudos de qualidade sobre as empresas. Se tiver outras dúvidas sobre o tema, não deixe de me escrever, pois sei bem a “angústia” que vivemos quando buscamos respostas para realizar o nosso trabalho no mais alto nível.
Não posso deixar de destacar que Damodaran havia sim me respondido na mesma linha, mas talvez por causa da leitura em inglês, curta e objetiva que pratiquei na resposta do e-mail dele, tive certa dificuldade em interpretar tão claramente, fato que não ocorreu ao ler o texto original que reproduzi acima no livro de Brealey & Myers.
Boa sorte!
Luis Fernando Freitas
Algumas Fontes de Pesquisas consideradas:
- Princípios de Administração Financeira – Lawrence J. Gitman – Editora Harbra
- Administração Financeira – Corporate Finance – Stephen A. Ross, Randolph W. Westerfield, Jeffrey F. Jaffe – Atlas
- Administração financeira – A.A. Groppelli & Ehsan Nikbakht – Editora Saraiva
- Financial Management – Theory And Practice – Eugene F. Brigham, Louis C. Capenski, Michael C. Ehrhardt – The Dryden Press
- Investments – Zvi Bodie, Alex Kane, Alan J. Marcus – McGraw-Hill
- Principles of Corporate Finance – Richard A. Brealey – McGraw-Hill
Sobre Luis Fernando Freitas
Sócio da Ribas Secco com foco na Avaliação de Empresas
Tem mais de 23 anos de experiência empreendedora na criação e desenvolvimento de negócios e atua também na prática de treinamentos corporativos técnicos e comportamentais para empresários e empresas de diversos setores da economia brasileira.
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